Elevação do PIB é ‘voo de galinha’ e não tem dedo de Temer, dizem economistas
Para presidente nacional da CUT, Vagner Freitas, Temer quer transformar derrotas econômica e moral em planilha financeira
Cada vez mais fragilizado na Presidência da República, o ilegítimo Michel Temer (PMDB) comemorou no Twitter o crescimento de 1% do PIB (Produto Interno Bruto) no primeiro trimestre de 2017. “Acabou a recessão”, disse o golpista.
O presidente da CUT, Vagner Freitas, reagiu indignado à comemoração. Para ele, Temer não conhece a realidade, as necessidades e muito menos o sofrimento dos brasileiros que, em seu governo, perderam os empregos e tiveram as condições de vida pioradas.
“Temer comemora o desemprego, o sofrimento do povo. Exalta uma planilha. Mas o povo não come planilha, não trabalha planilha, não mora em uma planilha”, diz Vagner.
Numa tentativa melancólica de impor uma agenda positiva enquanto balança no cargo, o governo ignora que o investimento continua em baixa e que a elevação não tem nenhuma relação com as políticas adotadas pela gestão golpista.
Ao contrário. Segundo levantamento do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), ainda que tenha havido algum avanço entre o último trimestre de 2016 e o primeiro de 2017, com crescimento de 1%, a economia brasileira encontra-se debilitada, se analisada em um período de tempo maior.
Comparando o trimestre de 2017 com 2016, houve queda no PIB de 0,4%, enquanto o índice acumulado de queda em 12 meses é de 2,3%.
Ainda assim, segundo o Dieese, o crescimento tem mais relação com fatores externos, como exportação e alta dos preços dos produtos exportados no mercado mundial, do que com ações internas de política econômica.
Índices como a formação bruta do capital fixo (FBCF), que medem o investimento em maquinários, novas indústrias etc., – veja tabela abaixo – apresentam queda e são o indicador mais preciso da fragilidade da atual economia.
O que, na avaliação do presidente da CUT, coloca a alardeada “desaceleração” da crise em bases frágeis e sem impacto efetivo para a vida do trabalhador.
Vagner ressalta que o governo de um país onde o desemprego cresce de maneira continuada não tem motivos para celebrar. “Um país com mais de 14,5 milhões de desempregados, 2,6 milhões em um ano de gestão Temer, não tem o que comemorar. O Brasil está parado, empresas estão fechando as portas. Não dá para transformar derrotas política, econômica e moral em vitória de planilha financeira”, critica.
Cenário de incertezas
Na avaliação do Dieese, em um cenário de completa incerteza, encarecimento e redução do crédito, contração fiscal e redução do consumo das famílias, a queda dos investimentos indica, acima de tudo, dificuldades em se manter o cenário recente de amenização da crise para os próximos trimestres.
A crise permanece e tudo indica que o ritmo da retração foi apenas amenizado, freado por fatores pontuais e externos, em especial, a exportação e a alta dos preços dos grãos no mercado mundial, e não relacionado com ações internas de política econômica, conforme também destaca o professor e economista Marcio Pochmann.
“Para a classe trabalhadora, a recessão continua na medida em que o nível de emprego encontra-se abaixo a cada mês que passa e a renda também não tem crescido. O efeito estatístico não decorre de políticas do governo Temer, mas sim da expansão do comércio externo, por meio das exportações, algo que já vinha se apresentando anteriormente por conta da desvalorização da moeda, que vem desde 2015, ainda no governo Dilma. Além disso, houve melhora na agricultura, algo também relacionado a efeitos climáticos que permitiram uma safra maior e não a políticas de Temer, que também nesse campo reduziu investimentos”, fala.
Voo de galinha
Pochmann lembrou que em períodos recentes de recessão, a alta do PIB se repetiu. “Entre 1981 e 1983, último ano do governo militar, e 1990 e 1992, o primeiro civil, houve queda, depois estabilização da queda com sinal positivo em relação ao PIB e, no ano seguinte, sem medidas de recuperação, nova recessão. Ou seja, sem medidas efetivas para recuperação, como acontece no cenário atual, esses números comemorados por Temer poderão ser apenas ponto fora da curva de uma recessão prolongada”, disse.
Mesmo a redução da Taxa Selic, anunciada na quarta-feira (31), em um cenário sem estratégia e de crise econômica e política, é incapaz de gerar mudanças efetivas no crescimento do país, avalia Pochmann.
“A inflação cai mais rapidamente do que a capacidade do Banco Central e do Ministério da Fazenda reduzirem a Taxa Selic em termos nominais. A inflação está em 4% ao ano com a Selic acima de 10%. Isso é incapaz de promover o deslocamento das aplicações financeiras para a ‘economia real’, o setor produtivo”, pontua.