Estamos nas ruas pela vida das mulheres e por nenhum direito a menos!
Chegamos a mais um 8 de Março e nós mulheres estamos nas ruas para erguer nossas vozes contra os retrocessos, contra a perda de direitos e em defesa de nossas vidas.
O 8 de Março é marcado por um processo internacional, nacional e local, que mobiliza e articula mulheres de todas as idades, de todas as raças, de todas as identidades de gênero, de diferentes setores da sociedade, em torno de objetivos comuns, dos quais se destacam: lutar contra a violência e garantir os direitos das mulheres.
O governo golpista de Michel Temer está conduzindo um conjunto de políticas que tem aumentado o desemprego e precarizado ainda mais as vidas de toda a população, atingindo especialmente as mulheres. Estamos nas ruas porque não aceitamos mais tanta violência contra nós! No ano de 2017, em Pernambuco, houve 2.134 vítimas de estupro e mais de 300 casos de homicídios de mulheres; foram 33.188 casos de violência doméstica e familiar.
Estamos nas ruas porque não aceitamos que parlamentares fundamentalistas, racistas e machistas aprovem leis que atingem diretamente os direitos reprodutivos das mulheres e sua autonomia reprodutiva. O aborto é hoje a quarta causa de mortalidade materna no Brasil, e esses parlamentares afirmam que a vida do feto é mais importante que a vida da mulher, negando o direito de interromper a gravidez mesmo em casos de estupro, risco de morte e anencefalia. Criminalizar o aborto não inibe sua prática, mas aumenta o número de abortos clandestinos e inseguros, em condições precárias. As mulheres morrem porque não tem direito a assistência nos serviços de saúde ou por serem abandonadas ao chegar a esses serviços, independente de terem provocado ou não o aborto. Nos países em que o procedimento está legalizado, o abortamento com mais de 12 semanas praticamente deixou de existir.
Ocupamos as ruas neste 8 de Março porque queremos uma sociedade livre do racismo, do machismo e do capitalismo. No quadro geral das desigualdades, as mulheres negras ocupam sempre as piores posições, em desvantagem em relação aos homens brancos, às mulheres brancas e aos homens negros. O racismo é institucionalizado em todos os campos das políticas públicas e isso se reflete em todas as dimensões da vida das mulheres negras.
Estamos nas ruas também para afirmar que “quando morar é um privilégio, ocupar é um direito”! Água, terra e moradia são direitos cada vez mais usurpados das mulheres, pela mercantilização das cidades e dos serviços públicos. O modelo de desenvolvimento econômico predatório praticado nas cidades urbanas e rurais tem eliminado o acesso a condições dignas de habitalibilidade, com infra-estrutura adequada e a garantia do direito de ir e vir. Queremos exercer nosso direito à cidade!
Elevamos as nossas vozes nas ruas em defesa da plena democracia, pois não toleramos mais ser tratadas como cidadãs de segunda categoria. Não aceitamos mais que partidos nos utilizem para preencher a cota de 30% em candidaturas sem reconhecimento, sem estrutura e sem apoio. Estamos construindo outras formas de fazer política e reivindicamos um modelo de participação política que contemple todas e todos.
A recente reforma trabalhista aprovada pelo governo golpista tem como resultado a precarização do trabalho e o empobrecimento da população, retirando direitos duramente conquistados ao longo da história da luta dos trabalhadores e das trabalhadoras neste país. Não aceitamos esses retrocessos!
A Previdência Social é até hoje a única política social que reconhece – formalmente – que existe dupla jornada de trabalho das mulheres e que o trabalho de reprodução social é um trabalho. E esta política está seriamente ameaçada por uma reforma que vai aumentar o tempo de contribuição, aumentar os limites de idade para a aposentadoria, prejudicando mulheres do campo e da cidade. Somos contra a reforma da previdência!
Para que possamos exercer nosso direito ao trabalho e ao estudo, reivindicamos a ampliação do número de creches, porque cuidar e educar as crianças é dever das mulheres, dos homens e do Estado. Não aceitamos mais arcar sozinhas com as responsabilidades das tarefas de cuidado, que geram uma cruel sobrecarga sobre nossos corpos e mentes!
Neste 8 de Março nos erguemos também contra o encarceramento em massa de mulheres que vem ocorrendo nos últimos anos neste país, especialmente de mulheres negras. Mulheres essas que têm seus direitos mais básicos violados pela ação do Estado que extermina seus filhos na tão propalada “guerra às drogas”, que criminaliza suas relações de afeto, que lhes nega condições de higiene e saúde nas instalações prisionais e lhes viola inclusive o direito à maternidade. Exigimos uma nova política de drogas, que não seja caracterizada como uma guerra perversa dirigida a pessoas negras e pobres das periferias.
Estamos nas ruas contra o fundamentalismo, que ameaça nossas vidas, desrespeita nossas identidades, viola nossos corpos e recusa nossa liberdade de escolha! Um fundamentalismo estampado no falso discurso que afirma que nossas identidades enquanto mulheres são uma “ideologia de gênero” e portanto devem ser reprimidas; um fundamentalismo que viola o direito à religião das pessoas de matriz africana, cujos lugares sagrados têm sofrido constantes ataques racistas. Um fundamentalismo que nega os direitos das mulheres lésbicas, transexuais, travestis e bissexuais, que têm seus corpos violentados em estupros corretivos e coletivos e que sofrem inúmeras outras formas de violência, culminando muitas vezes com a morte!
Estamos nas ruas, erguendo a nossa voz em mais um 8 de Março, porque queremos mais que resistir! Queremos existir plenamente!