Contra o racismo, o fascismo e em defesa da democracia
Foto: Marcello Zambrana/Anadolu Agency (via Getty Images)
A trágica morte do menino Miguel Otávio Santana da Silva, de apenas 5 anos, no último dia 2 de junho, traz na sua essência muitas verdades e expõe o fato de que muitas lutas ainda precisarão ser travadas, em nome de uma tão sonhada “sociedade mais justa e igualitária”.
Miguel era negro, filho de uma trabalhadora doméstica, e foi colocado pela dona da casa, sozinho, em um elevador de serviço, para que ele mesmo pudesse encontrar sua mãe, quando acabou sofrendo um acidente e falecendo. Tal absurdo, gerou revolta e indignação em vários setores da sociedade, que convocados por entidades do movimento negro, foram às ruas pedir justiça para o caso Miguel e denunciar a postura da mídia sobre o tratamento dado à “patroa” sobre o caso. Os manifestantes ocuparam a frente das conhecidas “torres gêmeas” na tarde da última sexta-feira (5/6) e fizeram uma homenagem simbólica ao menino.
Outro dado a se considerar é que mesmo em momento de isolamento social, em que as trabalhadoras domésticas deveriam estar dispensadas de suas funções, Miguel e sua mãe, Mirtes Renata Santana da Silva, contraíram COVID 19 com os patrões. O caso Miguel é exemplo concreto de racismo, desrespeito às leis e corrupção. Sim, corrupção! Pois a morte de Miguel expôs ainda verdades até então só conhecidas pelos patrões, de que Mirtes era de fato, funcionária da prefeitura de Tamandaré, portanto, exercia seu trabalho doméstico sem qualquer ônus para os patrões e sim para o poder público. Quantas Mirtes não haverá por aí, sem seus direitos garantidos e servindo apenas como um CPF para a prática de atos ilícitos?
A diretora do SINDPD-PE e Secretária de Mulheres da CUT, Liana Araújo esteve no Ato, que foi marcado pela comoção e afirmou que esse “NÃO PODE ser mais um caso onde o racismo, a desigualdade social e os privilégios da elite sejam esquecidos e fiquem impunes”. “O racismo que deu origem a escravidão ainda continua e é latente nos dias atuais; o racismo que empurra pra pobreza, pra exploração, pra o encarceramento, para a invisibilidade do ser humano que todos somos e que obriga uma mãe a levar seu filho pra o risco de contaminação. Esse fato expõe claramente a desigualdade social e o privilégio da elite que vive de negar o direito das/dos trabalhadoras/res para seu próprio usufruto”, concluiu.
O caso Miguel aconteceu em um momento em que nos Estados Unidos e em vários países do mundo, a população vem realizando protestos contra o racismo, pela morte de George Floyd, homem negro morto por um policial branco em plena luz do dia e a olhos de muitos. Coincidência ou não, no Brasil, o povo começa a ocupar as ruas contra o racismo, mas também contra o fascismo e as várias medidas fascistas adotadas pelo governo federal.
E esse movimento vem crescendo e tomando corpo em todo o país. E isso foi visto nesse final de semana, quando em várias capitais pessoas foram as ruas defender a democracia, os direitos humanos e da classe trabalhadora. É hora de dar um basta ao descaso, à insensatez e ao retrocesso que se apoderou do Brasil. Vidas negras, indigenas, LGBTs, mulheres e de toda a população vulnerabilizada do país, importam! Garantir conquistas e respeito aos direitos, importa! Defender o patrimônio e as riquezas naturais brasileiras, importa! Miguel, presente!