Estudos relacionam problemas de saúde físicos e mentais com o home office
Foto: Bench Accounting/Unsplash
Matéria: Lucas Janone, da CNN (Rio de Janeiro)
Pesquisa do LinkedIn mostra que 62% dos profissionais estão mais ansiosos e estressados; estudo de plataforma de saúde emocional mostra aumento de 151% em atendimentos psicológicos
Estudos compilados pela CNN mostram que a adoção do trabalho remoto, durante a pandemia de Covid-19, trouxe um aumento de problemas físicos e emocionais entre os brasileiros. Na teoria, o home-office geraria mais horas de sono, pouco deslocamento e uma oportunidade de passar mais tempo com a família. Na prática, o funcionário sofreu com a menor sociabilização, mudança de rotina e a sobrecarga de trabalho.
Um levantamento feito pelo LinkedIn, durante a pandemia, apontou que 62% das pessoas estão mais ansiosas e estressadas com o trabalho do que estavam antes da introdução das atividades remotas.
O estudo ainda traz que 72% dos jovens profissionais sentem que a pandemia prejudicou o aprendizado de habilidades comportamentais, como a comunicação e a inteligência emocional.
Os problemas de saúde mental dos brasileiros também são percebidos pelos terapeutas. Dados divulgados, nesta sexta-feira (29) pela Zenklub, plataforma de saúde emocional, registram uma alta de 151% nas sessões de terapia no primeiro semestre deste ano, em comparação com o mesmo período de 2020.
Em números absolutos, foram mais de 50 mil consultas nos primeiros seis meses de 2021. Nessas sessões, as menções aos problemas de saúde mental tiveram alta de 1.745% nas sessões de terapia online.
“Seis em cada dez brasileiros sentem uma sobrecarga de trabalho. Isso mostra que a gente está lidando com mais pressão e tem uma sensação de cansaço ou exaustão maior. A mudança de rotina, ambiente, dinâmica de trabalho, diminuição de socialização e dificuldade em impor limites são fatores agravantes”, disse à CNN o CEO e cofundador da Zenklub Rui Brandão.
A maior demanda por tratamento de transtornos psíquicos também foi registrada por uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), que contou com profissionais de 23 estados brasileiros e o Distrito Federal.
Segundo o levantamento, 82,9% dos psiquiatras perceberam o agravamento dos problemas de saúde mental em pacientes que já se tratavam de algum distúrbio, como depressão e ansiedade. Em 69,3% dos estados, os profissionais atenderam pacientes que já haviam recebido alta.
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) evidenciam que os transtornos mais comuns no Brasil são a ansiedade e a depressão, que afligem 20 milhões e 12 milhões de pessoas, respectivamente. Além disso, o país é considerado a nação mais ansiosa do mundo e a quinta mais depressiva.
Além dos problemas de saúde mental, os brasileiros sofreram mais complicações físicas durante o trabalho remoto. É o que diz, por exemplo, a Sociedade Brasileira de Coluna (SBC).
Para o membro da SBC, Dr. Haroldo Chagas, o número de cirurgias de coluna ‘nunca foi tão alto’. Ele detalha ainda como o home-office pode influenciar essa tendência.
“Sem dúvida nenhuma esse é o momento que em mais estou operando coluna. Desde o início da pandemia, aumentou muito a necessidade de intervenções para tratar problemas de coluna cervical, sendo majoritariamente pacientes com dores intoleráveis. A inatividade está relacionada com problemas na coluna cervical e lombar. O home-office intensifica esse efeito. Presencialmente, querendo ou não, a gente precisa se movimentar. O bem-estar da coluna está relacionado com o movimento”, disse o neurocirurgião especialista em coluna.
Por outro lado, o medo de ser contaminado pelo novo coronavírus e a facilidade de trabalhar em casa, uma parcela dos brasileiros gostaria de permanecer trabalhando de casa, pelo menos de forma parcial.
O estudo do LinkedIn ressalta que 43% dos brasileiros preferem adotar uma rotina híbrida, modelo de trabalho que alterna dias presenciais no escritório e dias em home-office.